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O que nos ensina a COVID-19 sobre as desigualdades e a sustentabilidade dos nossos sistemas de saúde

O que nos ensina a COVID-19 sobre as desigualdades e a sustentabilidade dos nossos sistemas de saúde
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A Covid-19 está infelizmente a expor as desigualdades existentes e persistentes do acesso à saúde nas nossas sociedades. Esta pandemia terá um fortíssimo impacto na vida das pessoas em situação de pobreza ou que enfrentam dificuldades socioeconómicas.

Os parceiros EuroHealthNet – serviços públicos responsáveis pela saúde – estão a fazer o melhor que podem para proteger os cidadãos e conter o surto. Nos dias e meses difíceis que se aproximam, torna-se clara a necessidade de trabalharmos em conjunto. Proteger a Saúde é responsabilidade de todos. A saúde começa na comunidade. A longo prazo, temos de ponderar como é que os nossos sistemas de saúde estão estruturados, qual a sua sustentabilidade e a sua capacidade de continuar a nos proteger a todos em momentos de crise.

 “Os parceiros EuroHealthNet estão a tentar evitar a expansão do coronavírus para nos ajudar a todos. É necessário reforçar todos os sistemas para tomar todas as ações que protejam os trabalhadores, as pessoas com maiores necessidades e a sustentabilidade dos nossos sistemas de saúde. Temos de ter VISÃO e prepararmo-nos para as futuras necessidades, derivadas dos impactos sociais e económicos causados pelo vírus.Dr. Gabrijelčič Blenkuš, Presidente da EuroHealthNet e consultor principal do Instituto Nacional de Saúde Pública da Eslovénia.

 

Desigualdades sociais e consequências do COVID-19 para a saúde

Algumas Investigações têm indicado que a maioria das mortes ocorrerão em pessoas com doenças tais como tensão arterial alta, a diabetes, e as doenças do coração ou pulmonares. Quanto mais social e economicamente vulnerável for uma pessoa, maior é a probabilidade de sofrer destas doenças [1], maioritariamente evitáveis. Tal também se verifica para pessoas com problemas mentais que serão exacerbados pelo isolamento, medo e insegurança [2]. O foco agora é evitar que a doença se alastre. Mais tarde, teremos que enfrentar os níveis altos e crescentes das doenças crónicas na nossa sociedade e reduzir a pressão sobre os serviços de saúde.

“Metade das chamadas para as linhas de emergência são de idosos solitários e metade dos mortos tinham pelo menos três doenças crónicas e, em geral, um baixo nível social. A necessidade mais crítica é a de especialistas em cuidados intensivos e de unidades de infeciologia. A Itália ainda não ultrapassou o pico da pandemia e temos mais perguntas do que respostas, mas já há lições que devemos aprender.” - Giovanni Gorgoni, Diretor Geral, Agência Regional de Saúde e Assuntos Sociais da Puglia (AReSS Puglia), Itália.

Pessoas em piores condições socioeconómicas poderão estar mais expostas à infeção. Terão mais dificuldade em isolar-se por não poderem trabalhar remotamente ou por falta de subsídios ou remuneração. Também vivem em maior, ou mesmo demasiada, proximidade [3]. A curto e a longo prazo também terão maior probabilidade de desemprego e dificuldades financeiras e são mais vulneráveis às flutuações do mercado de trabalho resultantes de alterações macroeconómicas.  

 

Sistemas de Saúde adequados ao futuro

A Associação EuroHealthNet de autoridades e institutos públicos regionais e nacionais tem, desde há muito, vindo a alertar para a necessidade de reorientar os nossos sistemas de saúde no sentido da promoção e da prevenção [4] e de proporcionar aos profissionais de saúde os apoios e o treino de que necessitam [5]. Com esta transição verificou-se a redução das doenças crónicas e das desigualdades na saúde, diminuindo as pressões sobre os serviços de saúde de proximidade, permitindo que fiquem mais melhor preparados para enfrentar momentos de crises.

“Por agora, todos devemos seguir as diretivas e ter a consciência de que ninguém está protegido. Depois de ter passado esta crise premente não deveremos esquecer as desigualdades encapotadas dos atuais sistemas de saúde que se tornam evidentes com as epidemias.” – Prof. Dr. Hristo Hinkov, Diretor do Centro Nacional para a Saúde Pública e Análises da Bulgária.

As lições da COVID-19 aconselham-nos, mais uma vez, a investir na prevenção e na promoção da saúde bem como na formação do pessoal de saúde, eliminando desigualdades de saúde evitáveis e desenvolvendo a “literacia” para a saúde. As soluções para enfrentar os problemas dos sistemas de saúde também têm que ser atendidas: é essencial que os sistemas de proteção social sejam sólidos e com financiamento adequado. O emprego e apoios ao rendimento têm que estar disponíveis de modo a enfrentar os custos adicionais e as consequências da doença e da falta de saúde. Investir em tais serviços significa o investimento em pessoas, na resiliência, na solidariedade e, por fim, no bem-estar da sociedade incluindo a economia.

A Comissão Europeia disponibilizou €140 milhões para apoiar 17 projetos de investigação para diagnóstico, tratamento e vacina para a doença [6], €50 milhões para constituir uma reserva de equipamento médico tal como ventiladores e máscaras de proteção para ajudar os países membros, €37 mil milhões [7] para fazer face à pandemia, proporcionando uma AJUDA muito bem-vinda aos sobrecarregados sistemas de saúde e às empresas. Quando passar a primeira fase desta crise, serão necessárias estratégias completas e de longo prazo e investimento continuado, distribuído por setores como a educação, habitação, ambiente, economia, etc. Estas estratégias deverão expandir a promoção da saúde e prevenção da doença, tornar sustentáveis os sistemas de saúde e promover a saúde de todos.

 “A EuroHealthNet aplaude a capacidade e a experiência de cada um dos seus membros, dos seus colaboradores e de quem cuida dos doentes. Aplaudimos a orientação global da OMS. Também nos congratulamos com quem trabalha na comunidade – desde os médicos especialistas aos voluntários- para ajudar a saúde mental e física das pessoas dessas comunidades. A saúde não é só responsabilidade dos sistemas de saúde, mas de todos nós” - Caroline Costongs, Diretora da EuroHealthNet.

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Nota

A EuroHealthNet é a Associação Europeia para a Saúde, Equidade e Bem-estar. Dedica-se às políticas, às práticas e à investigação. O seu enfoque especial é na redução das desigualdades na saúde através da ação nos determinantes da saúde, integrando objetivos sustentáveis e contribuindo para a transformação dos sistemas de saúde. Os principais membros da Associação são as autoridades e entidades responsáveis pela saúde pública, promoção da saúde e prevenção da doença a nível nacional, regional e local. Para mais informação e literatura visite www.EuroHealthNet.eu  

 

[1] Courtney L. McNamara, Mirza Balaj, Katie H. Thomson, Terje A. Eikemo, Erling F. Solheim, Clare Bambra, The socioeconomic distribution of non-communicable diseases in Europe: findings from the European Social Survey (2014) special module on the social determinants of health, European Journal of Public Health, Volume 27, Issue suppl_1, 1 February 2017, Pages 22–26, https://doi.org/10.1093/eurpub/ckw222

[2] WHO, Social Determinants of Mental Health, 2014 [2] https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/112828/9789241506809_eng.pdf;jsessionid=2B47C1C22D 562D0C355B71D35DDA0949?sequence=1

[3] In 2018, 26.2% of the European population with an income below 60 % of median equivalized income lived in overcrowded dwellings. Overcrowding rate by age, sex and poverty status - total population - EU-SILC survey 2018

[4] EuroHealthNet, The European Semester from a Health Equity Perspective, 2019 https://eurohealthnet.eu/publication/european-semester-2019-health-equity-perspective 

[5] EuroHealthNet, What role for health professionals to address health inequalities, 2019 https://eurohealthnet.eu/media/news-releases/what-role-health-professionals-address-health-inequalities

[6] COVID-19: Commission steps up research funding and selects https://ec.europa.eu/commission/presscorner/detail/en/ip_20_386 

[7] Corona Response Investment Initiative https://ec.europa.eu/info/sites/info/files/regulation-coronavirus-response-investment-initiative-march-2020_en.pdf