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Relatório de Desenvolvimento Humano 2020: a nova centralidade das alterações climáticas

Relatório de Desenvolvimento Humano 2020: a nova centralidade das alterações climáticas
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No passado mês de dezembro de 2020, ano em que se comemoraram os trinta anos da publicação do primeiro Relatório de Desenvolvimento Humano, incorporando o então inovador Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), foi divulgado o Human Development Report 2020, com o subtítulo The next Frontier: Human development and the Anthropocene (http://hdr.undp.org/en/2020-report/download).

Como se sabe, o principal objetivo da criação do Índice de Desenvolvimento Humano foi oferecer um contraponto a uma medida ‘tradicional’, o Produto Interno Bruto (PIB), que considera apenas a dimensão económica do desenvolvimento. Criado por Mahbub  ul  Haq

com a colaboração de Amartya Sen, vencedor do Prémio Nobel de Economia em 1998, o IDH pretende ser uma medida geral, sintética, do desenvolvimento humano.

Como lembra este último economista e filósofo, num bem-humorado e nostálgico relato da sua aventura intelectual com Mahbub  ul  Haq, em contributo especial para o relatório de 2020:

«O […] IDH nunca tentou representar tudo o que queríamos captar no sistema de indicadores, mas tinha muito mais a dizer acerca de qualidade de vida do que o PIB. Apontou para a possibilidade de pensar acerca de coisas mais significativas sobre a vida humana do que apenas o valor de mercado de compra e venda de mercadorias. Os impactos de uma baixa mortalidade, de melhor saúde, de mais educação escolar, e outras preocupações humanas elementares poderiam ser combinados de alguma forma agregada, e o IDH fez exatamente isso».

Sendo passível de amplificação, precisamente para agregar «coisas mais significativas sobre a vida humana», o IDH de 2020, e citamos o comunicado de imprensa, «introduz uma nova perspetiva experimental […]. Ao ajustar o IDH, que mede a saúde, a educação e padrões de vida de uma nação, para incluir mais dois elementos: as emissões de dióxido de carbono e sua pegada material, o índice revela como o panorama do desenvolvimento global poderia mudar se tanto o bem-estar das pessoas como o planeta fossem centrais na definição do progresso humano».

O subtítulo do relatório de 2020 encerra, então, um conceito novo e muito debatido, Antropoceno, era geológica em que nos encontraríamos presentemente, sucedendo ao Holoceno, associada à sedentarização humana e à agricultura. O Anthropocene Working Group (AWG), uma equipa interdisciplinar constituída em 2009 no âmbito da Comissão Internacional de Estratigrafia, com a finalidade de estudar o Antropoceno enquanto unidade de tempo geológico separada (cf. https://pt.unesco.org/courier/2018-2/um-glossario-o-antropoceno), concluiu, por larga maioria, em 2019, (1) que sim, o Antropoceno é uma unidade formal crono-estratigráfica e (2) que sinais estratigráficos desta nova unidade se encontram desde meados do século XX.

Tal como no AWG se cruzaram os pontos de vista de geólogos, especialistas em história do ambiente, em direito internacional, paleobiólogos, climatólogos e filósofos, assim também, na exploração do presente Relatório de Desenvolvimento Humano, é possível articular diferentes perspetivas disciplinares e promover o aperfeiçoamento de um vasto leque de áreas de competências, sem esquecer a relevância intrínseca do conceito central. A revista Anthropocenica. Revista de Estudos do Antropoceno e Ecocrítica (https://revistas.uminho.pt/index.php/anthropocenica/issue/view/137) , de que o primeiro número foi divulgado em novembro, pode constituir um contributo adicional para clarificação de conceitos e exploração das temáticas sugeridas pelo relatório do PNUD agora tornado público(*)

 

(*) Ainda só disponível na versão original, em língua inglesa.